sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dia dos Namorados


por Ana Raquel

Meu irmão me cobrou uma postagem e as meninas da agência sugeriram o tema acima. Nada mais oportuno, afinal, daqui a poucas horas será mais um dia 12 de junho.

Ontem mesmo estava pensando nessa data e o que ela representa para mim. Lembro de quando comecei a prestar atenção nela. Tinha acabado de me mudar para Cachoeiro e passei a conviver mais com minhas tias, irmãs da mamãe. Ficava vendo todas elas sonhando com essa data, especulando sobre os presentes que ganhariam. Não entendia muito bem, embora imaginasse o quanto devia ser gostoso o abraço, aquele gesto de mexer no cabelo como se fosse a coisa mais fascinante do mundo (claro que eles não as viam de touca ou sem escova), ou mesmo a companhia para as festas. Até que achava bonitas as cenas de beijo, mas tinha nojo ao imaginar aquele monte de cuspe trocando de boca... Eca...

Nessa época eu passei a gostar de um menino na escola. Meu primeiro "amor". Ele bem que tentou namorar comigo, mas recusei. Afinal, não sabia o que fazer, e achava que beijos melequentos eram pra gente mais velha. Não riam de mim, galera! Eu tinha de nove para dez anos... E era tímida de doer.

Pois é, não beijei, não namorei, mas passei a reparar nos casais à minha volta e nesse dia que eles amavam comemorar.

Quando me tornei pré-adolescente, também sem namorado (eita!!), eu já queria arriscar fazer uma transfusão de baba, principalmente se fosse com o gatinho que esnobei na quarta-série. Lembro de um dia dos namorados em especial que o digníssimo, já sabendo que eu gostava dele (claro! tentou ter seu segredo guardado em uma escola?), veio "conversar" comigo. Quase tive um treco! Pensei, "será que ele vai me pedir em namoro? Nossa, que romântico! Logo hoje!" Fiquei viajando tanto que demorei a perceber que o desgramado estava me pedindo opinião sobre o presente que a mãe dele (?!?!?!?!?!?!?!) havia comprado para a namorada, QUE NÃO ERA EU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Olhei com olhos compridos para a pasta de coleção de papel de carta dos meus sonhos... Fiquei arrasada! Além da tal sortuda estar com o menino de quem eu gostava, ia ganhar o presente que eu queria!!!!!!! Eu, que estava me achando a Cinderela até então, descobri que era a abóbora... Mas acho que, no geral, mantive minha dignidade. Falei um "é... muito bonito..." com o sorriso mais amarelo da minha vida e saí dali quase correndo.

Minha primeira desilusão "amorosa" com meu primeiro "amor" em pleno dia dos namorados foi demais pra mim. Passei a detestar a data. Claro, a falta de namorados contribuía pra essa fachada de indiferença à esse dia.

Já adolescente, por volta dos meus 14 anos, lembro-me de um dia dos namorados também (é praga?) em que, conversando com um menino por quem eu estava começando a me encantar, ele começou a chorar. De soluçar! Não entendi nada. Aí, quando ele se acalmou, me disse que gostaria que a namorada dele, o amor de sua vida (putz... eu tinha que ouvir isso naquele dia...) fosse tão amiga quanto eu era. Que gostasse dele tanto quanto eu gostava (pelo jeito não fui nem um pouco discreta). Em resumo: que fosse como eu, mas que fosse ela... "Ok", pensei. "Não basta dar um fora. Tem que humilhar..."

Com 17 anos, já na faculdade e ainda sem namorado (não riam. O negócio é meio que patológico), eu ficava vendo o troca-troca de presentes entre os casais à minha volta. Pra variar, passei por um constrangimento. Um cara estava dando um presente pra namorada e ela fazendo doce. Reclamou em voz alta, fez um escarcéu. Aí, a babaca que vos escreve estava passando justo naquele momento para comprar um suco na cantina. O cara agarrou meu braço, me puxou e entregou uma caixa dizendo: "Leva. É seu." Aí, quem ainda não tinha ouvido o show da madame, passou a ouvir seus gritos. Fora a multidão que já estava se formando antes e que havia aumentado consideravelmente. O rapaz me empurrava a caixa de um lado e a menina me puxava do outro. Meu olho já estava ardendo de tão vermelho que meu rosto estava. Chegou uma hora que cansei, sacudi meus braços para me soltar, empurrei o raio do presente para a histérica e saí p. da vida da faculdade. Fui pra casa mesmo. Deixei bolsa, livro, caderno, tudo para trás. Sorte que meus amigos eram demais e guardaram meus pertences!

Mesmo assim, a data exercia um certo fascínio em mim, ainda que fingisse não ligar. Lembro que um dia 12 de junho caiu numa quarta-feira, que para todos era o "dia de namorar". Naquele dia, eu e a Paula, minha melhor amiga que também estava sem namorado, passou na minha faculdade (ela cursava Direito) para darmos uma volta de carro pela cidade. Não sei se por masoquismo, ou por ser menos triste que voltar pra casa. Passamos pela Beira Rio e vimos as meninas das nossas faculdades saindo com braçadas de flores, ou recebendo seus presentes, ou dando aqueles amassos dignos de novela das oito.
No ano seguinte foi ainda pior! Eu gostava de um cara incrível. Era meu amigão, a gente vivia junto pra cima e pra baixo, fazíamos todos os trabalhos juntos, éramos confidentes um do outro, fazíamos surpresas nos respectivos aniversários, fazíamos pequenos agrados, contávamos piadas. Ou melhor, ele contava e eu ria. Na verdade, era uma pequena turminha. Eu, ele, uma amiga e dois amigos, entre eles o melhor amigo dele, que fez de tudo para namorarmos. Por que não o fizemos? Ele tinha uma namorada em Vitória e nenhum de nós queríamos magoar ou trair ninguém. Bom... claro que chegou o dia dos namorados. Claro que ela ficou em Vix e ele aqui. Claro que tinha aula. Claro que tinha trabalho e, claro, fizemos juntos esse trabalho. No final da aula nossa turma saiu mais tarde que as outras e ele me ofereceu carona, como sempre fazia, mesmo eu morando a poucos metros da facul. Ele passou direto pela minha casa e foi passear um pouquinho pra gente terminar o papo que tínhamos começado. Fomos parar depois de Soturno! Os dois com vontade de voar um no pescoço do outro e mandar todo o resto às favas! Já pensou? Eu, com meu histórico de uruca no Dia dos Namorados, começar um namoro super legal justamente nesta data! Mas... NADA! NAAAAAADAAAAAAAAAA! Não tivemos coragem. Nem tocamos no assunto. Fiquei sabendo que ele sentiu o mesmo que eu por nosso amigo em comum, que não gostava da namorada dele. Resumo: ele me deixou em casa, com um boa noite muito fofo, mas sem beijo sequer na bochecha!

Me senti tão sozinha naquela noite...
Aí, como sempre faço, fui buscar uma explicação técnica sobre a origem desse dia para tentar desmistificá-lo um pouco.

Tinha visto um filme na televisão em que o protagonista dizia que esse dia começou porque uma empresa de cartões comemorativos dos Estados Unidos queriam aumentar suas vendas, já que naquele ano as de Natal não haviam sido suficientes. Aí, aproveitaram o dia do santo casamenteiro de lá, São Valentim, e inventaram o Dia dos Namorados, ou "Valentine Day". Mas acho que o filme superdimensionou o lance dos cartões, embora o do santo fosse verdade.

Na Roma antiga, um imperador mané proibiu os casamentos porque ele achava que um homem casado a mais era um soldado a menos. Aí, o Padre Valentine casava os pombinhos apaixonados em segredo, indo contra as ordens superiores. Foi preso, claro, e - o mais legal... e triste - foi que se apaixonou pela filha cega de seu carcereiro. Dizem que ele promoveu um milagre e a mocinha voltou a enxergar (por isso foi canonizado). Aí, antes de sua execução, escreveu uma carta para ela, assinando com um "From your Valentine" ou, "Do seu Valentim". Em inglês, Valentine é sinônimo de namorado (a). Por isso o famoso "Be my Valentine" que ouvimos em tantas músicas.

Depois, como adoro história, fui em busca de uma origem mais antiga: um festejo romano chamado Lupercália.

Em Roma, lobos vagavam próximos às casas e um dos deuses do panteão romano, Lupercus, era invocado para mantê-los distantes. Por essa razão, era oferecido um festival em honra a ele no dia 15 de fevereiro, aproveitando os festejos de fertilidade. Nesse festival, era costume colocar os nomes das gatinhas romanas escritos em pedaços de papel, que eram colocados em frascos. Cada rapaz escolhia o seu papel e a menina sorteada deveria ser sua namorada naquele ano todo. Imagine o risco da garota! Podia ficar com o gostosão da turma, mas também... Nem quero pensar!
Esse ritual parece mais uma simpatia de dia de Santo Antônio (mamãe fez uma quando adolescente. Sou um tanto cética, mas o fato é que saiu a inicial do nome do papai... ui! Vai explicar...)

Procurei também por uma origem que vi em um filme antigo, em technicolor, que falava do período antes da II Guerra... O filme mostrava uma data comemorativa hebraica: o "Feriado do Amor e do Afeto", em que davam flores a quem amavam. Lindo! Pesquisando mais um cadinho, descobri que era comemorado desde tempos bíblicos, no 15º dia do mês hebreu de Av . No início, além do costume das flores, essa data era celebrada com tochas e fogueiras, por isso o ponto alto, até hoje, é a noite desse feriado. O filme era triste, mas essa passagem foi encantadora!
No Brasil o trem já foi menos romântico... Dizem que , entre o final da década de 40 e início da de 50, o comércio andava meio fraco no mês de junho. Um publicitário famoso na época, João Dória, inventou o slogan "Não é só com beijos que se prova o amor", e escolheram o dia 12 do mês para ser o Dia dos Namorados. Como vocês sabem, foi o maior sucesso e a data foi instituída. Tudo bem que foi um "colega" que inventou, mas cadê o glamour? O romantismo???? Mór-rreu!
Quanto a mim, só sei que dei muita importância a essa data e, quando finalmente comecei a namorar, meu primeiro dia dos namorados foi frustrante. Pra começar, o digníssimo nem se tocou da data. Aí, quando apareci linda e loira na casa dele para buscá-lo para sairmos, ele perguntou "pra quê"? Respirei fundo e decidi dar uma chance. Afinal, havia sonhado tanto com esse dia e por tantos anos, que não iria estragá-lo com uma briga. Quando eu falei, entregando o presente tão cuidadosamente escolhido, ele olhou pra mim com aquela cara de "Ih! Esqueci!", agradeceu o presente, tentou me convencer a comer uma pizza em casa mesmo. Quando viu que não gostei da ideia, se arrumou e me fez parar no shopping pra escolher eu mesma meu presente.
Eu simplesmente ODEIO isso! Mas, seguindo minha resolução de não brigar, escolhi uma sandália que eu não queria, mas que tinha um preço razoável. Não tive coragem de pedir o que que realmente queria. Nunca tenho. E olha que nem era caro. Mas não era naquela loja. Não era daquele jeito. Por isso odeio que façam isso. Prefiro ganhar um bombom de presente, escolhido com carinho, do que me levar para uma loja para cumprir uma obrigação, com a maior indiferença. Sou uma besta. Devia me aproveitar disso e limpar a carteira do sujeito. Mas não sou assim. Nunca fui e nem quero ser.
Não é despeito, ou pirraça. Não me entendam mal. Mas é que escolho um presente com tanto carinho. Penso no que a pessoa gosta, no que quer ou no que precisa com tanta antecedência. Procuro sempre o melhor, o mais surpreendente ou o mais original. E isso não quer dizer que ele seja necessariamente o mais caro, mas também não faço conta. Imagino o embrulho, o cartão, a entrega... Tudo nos mínimos detalhes.

Aí vem um cara que nem lembrou de nada, ou que não se dignou a gastar uns minutinhos do seu precioso dia para escolher algo que eu queira, ou que combine comigo, ou que simplesmente queira me dar. Aí, diz que vai me dar o presente depois (e esquece pra sempre), ou me joga em uma loja qualquer e me manda escolher "o que eu quiser". Sem contar que não leva a data a sério. Decepcionante...

É tão simples! Eu quero a lembrança e a surpresa, sempre! E isso eu não acho em loja nenhuma. Quero o cuidado, o carinho e o romantismo. A lembrança das coisas importantes que nos tornam um casal. Andar de mãos dadas. Dançar juntinho, mesmo que uma música imaginária... Noites estreladas, lua cheia...

Já deu para perceber que Dia dos Namorados para mim nunca teve muito encanto. Embora, para não ser injusta, alguns foram beem melhores que outros.
Um, em especial, foi engraçado. O mais interessante é que eu NÃO passei com o namorado da época, embora ainda estivéssemos juntos! Passei esse dia com minha amiga Cleide, em um hotel de Meaípe, por causa de um trabalho que precisávamos fazer no final de semana (a data caiu num domingo). Vocês precisavam ver a cara da recepcionista que preencheu nossa ficha ao dizermos que era um quarto apenas... Fora os que estavam no saguão. Enfim... Acharam que era mais um casalzinho romântico "muderno". Para piorar tudo e deixar Cleidoca a ponto de me bater, olhei pra cara assustada da menina e soltei um clássico: "não é nada disso que está pensando!"
Depois desse dia, eu deveria desistir. O que me salva é que sou uma otimista de carteirinha e uma romântica incurável. Ainda espero O Dia dos Namorados .
Mas tomo o maior cuidado para nunca, jamais, desprezar o fato de que, independente de qualquer carência ou expectativa, é o amor que deve existir. E ele é a base de todo o resto.
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