segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sob preconceitos e outras vergonhas...

*por AR


Outro dia eu estava voltando do almoço e, ao pegar o carro em frente de casa, vi duas garotas de cerca de 13, 14 anos conversando bem juntinhas. Nada demais. Duas amigas saindo da escola fofocando sobre o boy mais magia de todos, olhando mensagens no celular.
Ao chegar mais perto, vi algo que - confesso - me surpreendeu: as duas eram namoradas e estavam trocando carinhos. Dia alto, meio da rua, sem vergonha ou medo.
Ao mesmo tempo, percebi uma senhora com uma adolescente mais ou menos da idade das meninas no ponto de ônibus ao lado da minha garagem. A menina estava claramente criticando a atitude das outras e eu já podia "ouvir" a resposta da senhora, cheia de preconceitos e lições de moral.
Mas aí a vida - na forma desta senhora - me deu uma lição da qual dificilmente esquecerei...
Ela olhou para a neta e, com a expressão muito séria, disparou: "e daí se elas namoram? E daí se elas são mulheres que gostam de mulheres? O importante é que elas estão estudando, vivendo a vida delas. Melhor que você que está aí só fofocando. Você tem que aprender a viver sua vida, menina!"

E, chateada comigo, percebi o quão preconceituosa EU havia sido... Nem tanto pelas meninas, que, mesmo me surpreendendo, me deixaram feliz pela liberdade de expressão que elas tinham; mas pela atitude que eu achei que a senhora teria.

A gente sempre acha que o preconceito é do outro...

domingo, 28 de abril de 2013

Agora Posso ser Miss...

*por AR

Antes dos 11 anos li Quo Vadis?
O romance denso chamou a atenção dessa garotinha barata de biblioteca. A ambientação em Roma, citando personagens bíblicos e históricos, garantiram o restante do fascínio. Ter visto o filme, meio que escondida e de madrugada, foi o toque final para a escolha.
Confesso que li devagar, saboreando o fato de ler um livro 'de adulto' pela primeira vez, que muitos nem sabiam existir. Foi assim que parei de ler livros 'de criança'.

Embora nesta época eu já tivesse lido muitos de Charles Dickens, Hans Christian, Irmãos Grimm, entre outros, nunca cheguei a ler "O Pequeno Príncipe". Do alto do meu preconceito, eu achava que, por saber diversas citações, ter visto o filme e ser um "livro de Miss", não valia muito a pena... "Qualquer dia desses eu leio", eu pensava. "Já sei tantas citações que deve completar o livro." Deixei pra lá....

Até que, recentemente, meu namorado - um dos caras mais cultos que conheço, irreverente e com uma visão de mundo um tanto cética, cínica mesmo, às vezes - me falou do livro e do quão maravilhoso ele é.
Bardo então me deu o livro, meu primeiro presente de aniversário este ano, com a recomendação tácita de lê-lo com o coração aberto.

E finalmente esse pequeno governante do asteroide B612, que tinha uma rosa, três vulcões e conversava com serpentes e raposas, entrou em minha vida...

Mais do que os lindos, porém óbvios: "Você é responsável por aquilo que cativas", ou "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos", vi um livro incrível, que fala de resistência às mudanças, culpas e seus círculos viciosos, egoísmo, egocentrismo, falta de sentido para a vida, ignorância... Fala também de visão, esperança, sabedoria, tolerância, afeto. Humildade, simplicidade, aceitação, coragem.

Estou completamente encantada com este livrinho gigantesco!!! Se, quando ainda criança, quis ver como pessoa grande, e acabei vendo; hoje, como pessoa grande que sou, me descobri capaz de ver como criança. De perceber o elefante na jiboia e admirar o carneirinho dormindo na caixa, ainda sem sua focinheira.


E sim. Eu acho que o principezinho deu jeito na falta da correia.

Agora me perguntam: Quo Vadis (para onde vais), Raquel?

Vou deixar a pessoa grande pensar com a simplicidade de uma criança, pegar carona e viajar pelos diversos planetas que povoam minha mente. Conhecer tantos asteroides, cometas e planetas quanto puder. Saber como se comportam meus governantes e praticar a simplicidade do meu pequeno amigo...  A viagem é longa...


Como Bardo disse: é um livro que basta ler uma vez, para remoê-lo o resto da vida...

E, segundo ele, era o que me faltava para ser Miss...

terça-feira, 9 de abril de 2013

Barreiras

por AR


Construímos tantos muros ao nosso redor que acabamos encerrados em nossas próprias fortalezas...
Do que exatamente estamos nos protegendo?
Do que precisamos nos esconder?

Damos tantos nomes aos nossos medos; tantas justificativas para sermos como somos... e acabamos por estender essa "pseudotolerância" para todos que nos cercam.

Deixamos nosso melhor subentendido e desperdiçamos o que de melhor nos oferecem...


sábado, 6 de abril de 2013

GAIA

*por AR



 Sempre acreditei em Anjos da Guarda e, desde pequenininha, acho que eles mudam de forma várias vezes durante nossas vidas. Às vezes assumem a forma de amigos; outras, de simples desconhecidos. E muitas dessas vezes, de animaizinhos.

Gaia entrou em nossas vidas em julho de 2011. O namoro do Bardo Ricardo Lemos com ela começou pelo Facebook, a partir de uma postagem do grupo Patinhas Carentes, onde uma cadelinha mestiça de Shar-pei com Não-sei mostrava sua linguinha colorida para a foto. E o nome dado a ela acabou por conquistá-lo.

Apesar de já ter 3 anos - foi encontrada vagando e muito doente nas ruas de Vitória - ela se identificou imediatamente com seu novo companheiro, que bastou abrir a porta do carro para a garotinha pular, toda feliz, e encarar o primeiro dia do resto da sua vida!

Bastava Gaia chegar em qualquer lugar para ser a sensação. Com seus olhos dourados, seu pelo avermelhado e sua língua roxa, nunca passava despercebida... Sem contar o carisma. Magnetismo, eu diria...

Companheira de estrada de primeira, encarou 10 horas de viagem para chegar em Cumuruxatiba sem um resmungo. Quando parávamos para banheiro ou lanche, ela calmamente acordava de seu sono de beleza, saia do carro, fazia seu pipizinho, bebia uma aguinha e voltava para sua almofadinha no banco traseiro. De vez em quando acordava para ganhar um carinho e olhar a estrada.

Saldo da viagem: conquistou  a Bahia e seus convidados, aterrorizou os guaiamuns e cavou alguns buracos até o Japão... Todas as três vezes que esteve lá!

As aventuras foram muitas!!!
Todas devidamente documentadas...

Gaia gostava de carinho, viajar, roubar frango assado da mesa, andar de carro, falar 'baleiês' , subir na cama em nossa ausência, se esparramar no sofá, ou no meio do caminho, em nosso pé sob a mesa...
Gostava de aterrorizar pequenos insetos, usar morcegos como chiclete, latir para a campainha, dormir ouvindo música...
De puxar fio de meia-calça e pular em roupas claras...
De fugir de chuvas, poças d'água e ondas...
De nos dar sustos altas horas da noite sumindo pelas ruas e aparecendo com a maior cara lavada quando tirávamos o carro da garagem para procurá-la...
De fazer a maior festa quando chegávamos, ofertando presentinhos que achava pelo chão...

E roncar... Como essa menininha roncava!!! Ouvindo música então!

Não gostava de ficar sozinha, das viagens de trabalho do Bardo, do sofá ocupado, de banho, que a corrente da guia encostasse nela, de olhar para os lados antes de atravessar a rua...
De ouvir um "Gaia fica! BO-NI-TA". Pra ser honesta, ela detestava ouvir isso, pois significava que não podia ir conosco. A gente também não gostava disso...

Na verdade, ela não gostava de bem pouca coisa...

Gaia gostava até de seus apelidos estranhos! Feiosa, Periguete, Fedorenta, Filó, Feiozzy (essa ela deve ao morcego)...
Ela gostava dos charmosinhos também, claro: Lady Gaia, Galotinha, Tapetinho, Menininha, Flor, Bonequinha, Princesa, Gostosa. Sem contar que ela era praticamente uma fauna. Nem a Arca de Noé era páreo para ela: rabo de tatu, cabeça de jacaré, rosnado de onça, pulava e corria como canguru e falava baleiês!!!

Gaia falava baleiês...

Foram tantas coisas incríveis, tantas pessoas cativadas por aqueles olhos dourados e carinha franzida...

Mas a missão dela por aqui estava terminando... Gaia já havia nos ensinado sobre superação, desprendimento, responsabilidade e o poder do amor. Porém ainda faltava uma coisa: entender São Chiquinho quando pediu:


"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...

E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."

Tivemos muito pouco tempo para lutar, mas o fizemos - juntos - até o fim. E ela aproveitou para nos dar mais uma lição de força e superação. E nos mostrar seu amor nos mínimos gestos.

Então, em uma manhã de céu azul e nuvens branquinhas, ela se despediu da gente e foi finalmente descansar. Não sem antes dar uma passada em alguns sonhos e conversar com algumas musas. Não sem antes nos ensinar sobre resignação e sabedoria...

O Anjo da Guarda do Bardo acabou sendo um presente de Deus para todos nós. Sabemos que ela voltou para pegar mais instruções com Papai do Céu e São Chiquinho para vir de novo em outro momento ensinar novas lições para quem precisar.

E, generosa como sempre, deixou as portas abertas...



*Patinhas Carentes é um grupo criado no Facebook e formado por amantes de animais, que resgatam, cuidam e doam os abandonados e perdidos para lares amorosos. Conheça o trabalho fantástico feito por esse pessoal: facebook.com/PatinhasCarentes

**Embora eu nunca tenha entendido como um ser apaixonante possa ter sofrido abandono (sempre apostei mais na hipótese dela ter se perdido), tenho consciência que a história dela só aumentou o carinho que todos sentiam.

***Gaia se foi no Dia do Animal de Rua (04/04). Não à toa...




sábado, 30 de março de 2013

Os mestres de São Chiquim...

*por AR


Meu irmão sempre diz que, para atingir o equilíbrio, a pessoa deve ser amada incondicionalmente por um cachorro e totalmente ignorada por um gato.
(Até concordo, mas tenho um cadinho de pena dos gatos nesta frase... Afinal, eles só são mais discretos em suas manifestações de carinho...)

Aí vem São Francisco e nos diz o que aprendeu com esses bichinhos:

"Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado..."

Pois é... Já pararam pra pensar o quanto de amor esses bichinhos podem nos ensinar? Não importa quantas prioridades tenhamos em nosso dia-a-dia, ou quanto "ignoramos" nossos amiguinhos, quando chegamos em casa tem sempre festa! Se um rabinho balançando tanto que parece que o bichinho vai voar, ou um ronronar satisfeito se enroscando em nossas pernas, a demonstração de amor é sempre grande.

Ou seja: não importa o que a gente ofereça para eles. Eles SEMPRE nos dão o seu melhor, mesmo quando não recebem o mesmo em troca.  Mas continuam oferecendo, e oferecendo, e oferecendo...

E não devem entender porque achamos tão difícil fazer o mesmo...


terça-feira, 19 de março de 2013

Diário de Uma Motorista

*por AR


Poucas coisas me irritam tanto quanto o trânsito.

Todo dia eu pego o carro e me condiciono a ter paciência para não sair por aí  levando sustos e tendo que inventar novos palavrões, mas é difícil. É um festival de barbeiragens, desrespeito, imprudência, imperícia, imbecilidade...

Fico tentando decifrar, enquanto ando a 10Km por hora em uma via de 50, o que de tão interessante tem pro sujeito da frente esquecer que o acelerador é ali do lado do freio... Eu até engulo o palavrão, mas a buzina é mais rápida... Sei que é feio e tal, mas pelo menos, o mautorista se toca e dá um jeito de acelerar ou sair da frente. Tem uns recalcados que diminuem ainda mais a "velocidade".

Aí, quando consigo me livrar do talzinho, vejo um outro que enfia a cara, o carro e tudo no meio da pista. Caramba! Será que o ponto cego dele tem 150º? Além do susto, do palavrão engolido e de algumas manobras radicais, você consegue parar para dar passagem ao cidadão. Ou desviar dele.

Mais um cadinho e um sujeito totalmente zémané para na sua frente. Simplesmente para... Assim, sem mais nem menos... Aí, sai um canhão vestido de periguete  do carro - praticamente em câmera lenta - e vai se despedir (!?!?!) pela janela do motorista... Pombas!!! (quase escapou um palavrão!) Nesse ínterim, os carros se acumulam atrás, as buzinas se fazem ouvir, o mundo gira, a maré sobe, desce, sobe... e mais um palavrão vira verbete no meu dicionário de palavras infames.

Ok. Mais um obstáculo ultrapassado. Ufa! Rio da minha mania de "Sr. Volante" e sigo em frente. No sinal, sou espremida por duas motos. Além do medo de assalto, fico relembrando minhas aulas de trigonometria e física, para calcular a área que tenho, deslocamento, fico me repetindo aquele lance de dois corpos não ocuparem o mesmo lugar no espaço... e rezo... o sinal abre, surgem mais uns três sei lá de onde e o apressadinho de trás, mesmo vendo meu sufoco para evitar a quebra de uma lei da física, vai com força na buzina de seu carro, me mandando sair da frente...

Saio, né... Perdi a razão quando buzinei lá atrás...

Aí, entra uma bicicleta na minha frente, com um projeto de mautorista no guidom, e uma pessoa resolve atravessar um sinal aberto pra mim, olhando com cara de "passa por cima que eu quero ver!".

Jesus, tire meu pé do acelerador!!!

Então respiro fundo... e acrescento mais um verbete do mal lá no livrinho negro (ops... sou Cypriano... melhor deixar esse lance de livro negro pra lá...). Enfim, invento um palavrão novinho em folha!

Na agência, tento estacionar, mas é impossível. Dá vontade de deixar o carro de novo em casa, mas resisto, pois sei que precisarei do carro por perto durante todo o dia... Ossos do ofício...

Então rodo, rodo, rezo pra alguém lembrar que esqueceu a panela de feijão no fogo, pegar o carro e me liberar uma vaga, até achar um espacinho pra mim.

Aí o dia acaba e resolvo ir pra casa. E me deparo com uma ruinha que mal dá para um carro passar... mas enfiaram um carro estacionado de cada lado e, logo depois um caminhão para fazer entrega pra um mercadinho menor que sua caçamba...

Caçamba!!! Haja!!!

Você vira na última rua antes de chegar no conforto de sua garagem e dá de cara, ou o outro lado, pra ser exata, de uma grávida brigando com o namorado e fazendo cena no meio da rua...

Meus sais...

Ando mais um cadinho e, quase lá, descubro que conseguiram fazer fila dupla na frente da minha garagem.
Não tenho que achar um motorista folgado e mal educado. São dois!!! E, claro, o primeiro demooora a aparecer, me obrigando a ouvir as grosserias de um cidadão que deve achar que ali o tal do E com um risco sobre ele nada mais é que uma limitação de vogais...

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Quem merece nosso melhor?

*por AR

Não me considero uma grande filósofa e, às vezes, tenho até preguiça de pensar sobre certas coisas. Mas uma coisa eu sei: não damos valor ao que realmente importa. Ou não de forma proporcional.

Vejamos...
Onde usamos nosso melhor look? Fora de casa. Para, na maioria, estranhos que só vão te analisar, julgar e rotular.
Para quem oferecemos nosso mais belo sorriso e nossas melhores maneiras? Para, de novo, estranhos, ou pessoas que mal conhecemos. E muitos não darão a mínima...
Quando é mais fácil ajudarmos alguém? Quando esse alguém está longe. Conheço muitos que já mandaram até comida para a África, mas negaram um prato de comida para um pedinte em sua própria rua.

Pois é... no mínimo, a carapuça serve em um ou outro aspecto.

Ficamos bonitos e preocupados com a aparência na rua, mas ao chegarmos em nosso canto, obrigamos nossa família a nos ver descabelados, amarfanhados, desleixados. Até perfume só se usa da porta pra fora! 
Passamos o dia todo sorrindo e sendo cordiais com estranhos e, ao chegarmos em casa, despejamos todo nosso mau humor sobre as pessoas que nos amam.
Ajudamos a Etiópia, mas nossa cidade transborda problemas sociais e pessoas sofrendo preconceito.

Não proponho aqui um show de grosseria na rua, aliado ao embarangamento geral e jogando pão para o alto. É bom ver o bonito em qualquer lugar. Proponho valorizarmos quem merece de fato nosso melhor sorriso, nosso melhor aspecto, nossa maior ajuda. Podemos - e devemos - confiar nossas frustrações e expectativas a essas pessoas especiais, e não descontar nelas.

Elas sim, vão encarar nosso sorriso, nosso aspecto e nossas atitudes como as coisas mais lindas e importantes do mundo.

Mas vão se magoar muito caso tudo o que ofereçam seja retribuído na base da pedrada...
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