domingo, 28 de abril de 2013

Agora Posso ser Miss...

*por AR

Antes dos 11 anos li Quo Vadis?
O romance denso chamou a atenção dessa garotinha barata de biblioteca. A ambientação em Roma, citando personagens bíblicos e históricos, garantiram o restante do fascínio. Ter visto o filme, meio que escondida e de madrugada, foi o toque final para a escolha.
Confesso que li devagar, saboreando o fato de ler um livro 'de adulto' pela primeira vez, que muitos nem sabiam existir. Foi assim que parei de ler livros 'de criança'.

Embora nesta época eu já tivesse lido muitos de Charles Dickens, Hans Christian, Irmãos Grimm, entre outros, nunca cheguei a ler "O Pequeno Príncipe". Do alto do meu preconceito, eu achava que, por saber diversas citações, ter visto o filme e ser um "livro de Miss", não valia muito a pena... "Qualquer dia desses eu leio", eu pensava. "Já sei tantas citações que deve completar o livro." Deixei pra lá....

Até que, recentemente, meu namorado - um dos caras mais cultos que conheço, irreverente e com uma visão de mundo um tanto cética, cínica mesmo, às vezes - me falou do livro e do quão maravilhoso ele é.
Bardo então me deu o livro, meu primeiro presente de aniversário este ano, com a recomendação tácita de lê-lo com o coração aberto.

E finalmente esse pequeno governante do asteroide B612, que tinha uma rosa, três vulcões e conversava com serpentes e raposas, entrou em minha vida...

Mais do que os lindos, porém óbvios: "Você é responsável por aquilo que cativas", ou "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos", vi um livro incrível, que fala de resistência às mudanças, culpas e seus círculos viciosos, egoísmo, egocentrismo, falta de sentido para a vida, ignorância... Fala também de visão, esperança, sabedoria, tolerância, afeto. Humildade, simplicidade, aceitação, coragem.

Estou completamente encantada com este livrinho gigantesco!!! Se, quando ainda criança, quis ver como pessoa grande, e acabei vendo; hoje, como pessoa grande que sou, me descobri capaz de ver como criança. De perceber o elefante na jiboia e admirar o carneirinho dormindo na caixa, ainda sem sua focinheira.


E sim. Eu acho que o principezinho deu jeito na falta da correia.

Agora me perguntam: Quo Vadis (para onde vais), Raquel?

Vou deixar a pessoa grande pensar com a simplicidade de uma criança, pegar carona e viajar pelos diversos planetas que povoam minha mente. Conhecer tantos asteroides, cometas e planetas quanto puder. Saber como se comportam meus governantes e praticar a simplicidade do meu pequeno amigo...  A viagem é longa...


Como Bardo disse: é um livro que basta ler uma vez, para remoê-lo o resto da vida...

E, segundo ele, era o que me faltava para ser Miss...

terça-feira, 9 de abril de 2013

Barreiras

por AR


Construímos tantos muros ao nosso redor que acabamos encerrados em nossas próprias fortalezas...
Do que exatamente estamos nos protegendo?
Do que precisamos nos esconder?

Damos tantos nomes aos nossos medos; tantas justificativas para sermos como somos... e acabamos por estender essa "pseudotolerância" para todos que nos cercam.

Deixamos nosso melhor subentendido e desperdiçamos o que de melhor nos oferecem...


sábado, 6 de abril de 2013

GAIA

*por AR



 Sempre acreditei em Anjos da Guarda e, desde pequenininha, acho que eles mudam de forma várias vezes durante nossas vidas. Às vezes assumem a forma de amigos; outras, de simples desconhecidos. E muitas dessas vezes, de animaizinhos.

Gaia entrou em nossas vidas em julho de 2011. O namoro do Bardo Ricardo Lemos com ela começou pelo Facebook, a partir de uma postagem do grupo Patinhas Carentes, onde uma cadelinha mestiça de Shar-pei com Não-sei mostrava sua linguinha colorida para a foto. E o nome dado a ela acabou por conquistá-lo.

Apesar de já ter 3 anos - foi encontrada vagando e muito doente nas ruas de Vitória - ela se identificou imediatamente com seu novo companheiro, que bastou abrir a porta do carro para a garotinha pular, toda feliz, e encarar o primeiro dia do resto da sua vida!

Bastava Gaia chegar em qualquer lugar para ser a sensação. Com seus olhos dourados, seu pelo avermelhado e sua língua roxa, nunca passava despercebida... Sem contar o carisma. Magnetismo, eu diria...

Companheira de estrada de primeira, encarou 10 horas de viagem para chegar em Cumuruxatiba sem um resmungo. Quando parávamos para banheiro ou lanche, ela calmamente acordava de seu sono de beleza, saia do carro, fazia seu pipizinho, bebia uma aguinha e voltava para sua almofadinha no banco traseiro. De vez em quando acordava para ganhar um carinho e olhar a estrada.

Saldo da viagem: conquistou  a Bahia e seus convidados, aterrorizou os guaiamuns e cavou alguns buracos até o Japão... Todas as três vezes que esteve lá!

As aventuras foram muitas!!!
Todas devidamente documentadas...

Gaia gostava de carinho, viajar, roubar frango assado da mesa, andar de carro, falar 'baleiês' , subir na cama em nossa ausência, se esparramar no sofá, ou no meio do caminho, em nosso pé sob a mesa...
Gostava de aterrorizar pequenos insetos, usar morcegos como chiclete, latir para a campainha, dormir ouvindo música...
De puxar fio de meia-calça e pular em roupas claras...
De fugir de chuvas, poças d'água e ondas...
De nos dar sustos altas horas da noite sumindo pelas ruas e aparecendo com a maior cara lavada quando tirávamos o carro da garagem para procurá-la...
De fazer a maior festa quando chegávamos, ofertando presentinhos que achava pelo chão...

E roncar... Como essa menininha roncava!!! Ouvindo música então!

Não gostava de ficar sozinha, das viagens de trabalho do Bardo, do sofá ocupado, de banho, que a corrente da guia encostasse nela, de olhar para os lados antes de atravessar a rua...
De ouvir um "Gaia fica! BO-NI-TA". Pra ser honesta, ela detestava ouvir isso, pois significava que não podia ir conosco. A gente também não gostava disso...

Na verdade, ela não gostava de bem pouca coisa...

Gaia gostava até de seus apelidos estranhos! Feiosa, Periguete, Fedorenta, Filó, Feiozzy (essa ela deve ao morcego)...
Ela gostava dos charmosinhos também, claro: Lady Gaia, Galotinha, Tapetinho, Menininha, Flor, Bonequinha, Princesa, Gostosa. Sem contar que ela era praticamente uma fauna. Nem a Arca de Noé era páreo para ela: rabo de tatu, cabeça de jacaré, rosnado de onça, pulava e corria como canguru e falava baleiês!!!

Gaia falava baleiês...

Foram tantas coisas incríveis, tantas pessoas cativadas por aqueles olhos dourados e carinha franzida...

Mas a missão dela por aqui estava terminando... Gaia já havia nos ensinado sobre superação, desprendimento, responsabilidade e o poder do amor. Porém ainda faltava uma coisa: entender São Chiquinho quando pediu:


"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...

E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."

Tivemos muito pouco tempo para lutar, mas o fizemos - juntos - até o fim. E ela aproveitou para nos dar mais uma lição de força e superação. E nos mostrar seu amor nos mínimos gestos.

Então, em uma manhã de céu azul e nuvens branquinhas, ela se despediu da gente e foi finalmente descansar. Não sem antes dar uma passada em alguns sonhos e conversar com algumas musas. Não sem antes nos ensinar sobre resignação e sabedoria...

O Anjo da Guarda do Bardo acabou sendo um presente de Deus para todos nós. Sabemos que ela voltou para pegar mais instruções com Papai do Céu e São Chiquinho para vir de novo em outro momento ensinar novas lições para quem precisar.

E, generosa como sempre, deixou as portas abertas...



*Patinhas Carentes é um grupo criado no Facebook e formado por amantes de animais, que resgatam, cuidam e doam os abandonados e perdidos para lares amorosos. Conheça o trabalho fantástico feito por esse pessoal: facebook.com/PatinhasCarentes

**Embora eu nunca tenha entendido como um ser apaixonante possa ter sofrido abandono (sempre apostei mais na hipótese dela ter se perdido), tenho consciência que a história dela só aumentou o carinho que todos sentiam.

***Gaia se foi no Dia do Animal de Rua (04/04). Não à toa...




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