Perfeição (?)

Ela sempre foi a boa filha, a boa aluna, a boa amiga, a boa irmã, a boa namorada. Teve uma infância feliz, uma adolescência simples, porém sadia e isenta de sustos e dramas familiares. Começou a trabalhar cedo e teve sucesso logo no início. Virou boa profissional também. Formou-se na faculdade mal chegando à segunda década de vida.

Bem educada e gentil, todos os seus relacionamentos são tranquilos. Sempre incentivou seus parceiros a construir um lar, um legado, um futuro, uma história da qual se orgulhassem. Apoiou cada empreendimento e invenção de moda - mesmo quando não concordava a princípio. Mas sempre se envolveu de forma completa e carinhosa em tudo, deixando parte de si nesses projetos. Deu seu melhor em cada coisa que fazia.

Perfeita!

Só que não.

Embora seja boa em muita coisa, ela é humana. Muito humana. Portanto, também ruim em provavelmente muita coisa. E isto, aos olhos dos que a cercam, eventualmente vira um pecado capital. Ela é cobrada sempre pelo melhor desempenho, pela melhor atitude, pela melhor reação e pelas melhores palavras. Caso contrário, as pessoas se ofendem, se ressentem, a agridem e se afastam.

Magoados e revoltados, na maioria das vezes. Vão compará-la às piores pessoas que poderão lembrar. Vão ofendê-la com as coisas que ela mais vai sentir dor.  Afinal de contas, para alguém tão bacana, ela TEM que entender. TEM que apoiar. TEM que aceitar. TEM que perdoar.

Sempre com um abraço amigo e um sorriso doce - sua marca registrada. Sempre fada. Nunca bruxa.

Mas, por mais que ela também se cobre, continua sendo humana. E nem sempre vai entender, apoiar, aceitar ou perdoar. Nem sempre o sorriso lindo estará lá. E ela se cobra. Nem sempre ela conseguirá absorver os impactos da vida. E ela se cobra. E ela sofre muito com isso. Está sempre sozinha no pedestal que a colocam e a abandonam quando não age de acordo com o que esperam. E ela se cansa...

O fardo é pesado. Triste.

E bastante solitário.